Nasci de novo quando aprendi a ler. Vivo melhor desde que me descobri entre os versos de Carlos Drummond de Andrade, a prosa de Clarice Lispector e José de Alencar. Até os 65 anos, eu era analfabeta – conheci as letras por necessidade de lutar pelo meu pedaço de chão. Cresci na terra indígena Guarani Piaçaguera, no litoral paulista, e herdei de meu avô um lote e muito serviço. Capinava a roça, plantava mandioca e milho. Aos 23 anos, fiquei viúva, sozinha com quatro filhos, e batalhei demais para sustentar a família e reconstruir minha vida. Com 34 anos, me casei outra vez. Meu marido me renovou e tivemos uma criança.
Em 2001, como estavam construindo um loteamento ao lado da minha casa, resolvi legalizar a propriedade que estava na família havia várias gerações. Fui trapaceada: pessoas sem escrúpulos me tomaram metade da área. Tudo porque não sabia ler e confiei em quem não deveria. Decidida a não ser passada para trás de novo, fui estudar. Descobrir que uma sílaba com outra fazia nascer as palavras parecia um sonho! Depois do ensino fundamental, terminei o segundo grau no curso de alfabetização para adultos e entrei na faculdade de pedagogia. Aí brotaram poemas e contos. Em 2007, escrevi o livro A Felicidade Está a sua Espera, sobre o prazer de vencer desafios. Mosaíco Caiçara é minha segunda obra, um resgate da cultura de meu povo. Ser autora é mais do que sonhei na vida. O terceiro livro está a caminho, mas não esqueci minha missão: continuo lutando para recuperar minhas terras na Justiça. A dignidade e a alegria eu já recuperei. Hoje eu escrevo meu destino, que é fazer mestrado e doutorado em educação. É como um dos meus poemas: “Meus olhos revelam minha liberdade. Agora Sei a verdade de mim mesma e sou feliz”.
Lydia Gonçalves descobriu as letras quando precisou lutar por justiça. Hoje aos 74 anos, cinco filhos, muitos netos e bisnetos, está se formando pedagoga, tem dois livros publicados e faz planos de entrar na pós-graduação.
Fonte: Revista Cláudia – nº 12 – Dezembro/2010
Oi Debora!
ResponderExcluirMuito linda esta história da Lídia!
Isso é uma injeção de ânimo para nós, não é mesmo? Hoje em dia só não estuda quem não quer! Adorei a postagem!
Josete
OLÁ! ESTE TEXO SERVIRÁ OMO MINHA LETURA DE FRUIÇÃO DE HOJE EM MINHA SALA DA EJA.
ResponderExcluirTENHO CERTEZA QUE SERIRÁ COMO EXEMPLO PARA MINHAS SENHORAS ESTUDANTES
VALEU!
MEIRIÉLLEN PUGA
DRACENA/SP
Meiriéllen,
ResponderExcluirQue bom que o blog contribuiu para sua aula.
Abraços
Débora Martins
http://educacaolivreparapensar.blogspot.com