Um abraço,
Débora
PRECONCEITO? ESTOU FORA. ESTOU MESMO?
Conviver em sociedade exige um exercício constante de autocrítica para que a discriminação das diferenças não se transforme em intolerância e desrespeito
Por Jaime Pinsky
Uma forma bem brasileira de demonstrar preconceito são as piadinhas. Nelas, os portugueses (e as loiras) são sempre burros, os italianos barulhentos, os argentinos arrogantes, os judeus argentários, os “turcos” comerciantes ladinos e por aí afora. Nada contra piadas, desde que elas não sirvam como veículo de reprodução e reforço de estereótipos. E estereótipos são responsáveis por frases estúpidas, como “loiras, porém inteligente”, ou “argentino, porém modesto”. O “porém” deixa claro que aquele indivíduo é a exceção que confirma a regra.
A função social do preconceito é colocar o objeto dele em posição de inferioridade. Quando berramos no trânsito que “dona Maria deveria pilotar fogão”, não um carro, queremos dizer que todas as mulheres dirigem mal. O corolário é óbvio: “Como não sou mulher, obviamente eu dirijo bem, e, portanto, sou superior a todas as mulheres”. Raciocínios desse tipo é que levaram uma nação culta e civilizada a supor que qualquer “ariano” era superior a Einstein, por este ser judeu, de raça inferior, consequentemente.
Os relativistas que me desculpem, mas o preconceito ganha terreno quando falamos da suposta inferioridade da mulher com relação ao homem, do velho com relação ao jovem, do negro com relação ao branco. Se a mulher tem menos força que o homem, possui, por outro lado, mais resistência e vive mais. Se o jovem tem a pele mais lisa e mais vigor, perde em experiência e tolerância. Cor de pele é melanina, não raça, uma vez que os humanos, sem exceção, fazem parte de uma só raça.
Além disso, do ponto de vista intelectual, não há nenhuma diferença provada entre baixos e altos, escuros e claros, homens e mulheres, garotões e maduros, homossexuais e heterossexuais, norte e sul-americanos, europeus e africanos. Por mais que grupos e estados racistas tenham tentado provar essa tese.
No entanto, estamos sempre discriminando (a discriminação é o preconceito em ação): discriminamos os “sem-carro” ao não respeitarmos faixas de pedestres; discriminamos cadeirantes ao não construirmos rampas entre as ruas e as calçadas; discriminamos ambos quando o ônibus não encosta no meio-fio para facilitar a subida do passageiro; discriminamos pobres ao não fornecer ensino público universal de qualidade. Como a discriminação (atitude) decorre do preconceito (pensamento), é evidente que somos preconceituosos.
Pesquisa recentemente feita no Brasil dá conta de que mais de 90% das pessoas consultadas acham que existe preconceito; por outro lado, praticamente nenhum dos consultados se considera preconceituoso. Preconceito, portanto, é o dos outros, o que nós temos é opinião formada sobre os assuntos.
Nada como buscar a opinião de “minorias” para nos darmos conta do preconceito nosso de cada dia. Gostaria de sugerir a leitura de alguns livros que organizei, para o aprofundamento do tema: em 12 faces do preconceito, há interessantes olhares, como o de Jean- Claude Bernardet sobre os homossexuais, ou o do dr. Luiz Eugênio Garcia Leme sobre os idosos. Em Brasileiro é assim mesmo: cidadania e preconceito (esgotado), a procuradora Luiza Nagib Eluf e eu apresentamos um olhar cotidiano sobre o tema. Faces do fanatismo, que fiz junto com a historiadora Carla Bassanezi Pinsky, mostra situações-limites geradas pelo preconceito. E A invenção das raças, do geneticista italiano Guido Barbujani, pulveriza, cientifi camente, o ranço racista que subsiste em certos círculos. Boa leitura!
Revista da Cultura/julho/2009
Um abraço,
Débora
Educação:Livre para pensar
ResponderExcluirComentários do post 40671369
O que vale nessa vida é ser feliz. E ser feliz é ser livre, é dizer chega para quem quer impor regras segundo só a sua ótica.
Marianita | 16-07-2009 15:48:20
A diversidade cultural e racial é condição fundamnetal para a perpetuação da espécie!
Mário Machado | Email | 12-07-2009 17:20:16