Uso do celular: Falar ao telefone já é quase uma função secundária
Tatiana Serra
Seja em casa, na escola, no trabalho, “na chuva, na rua, na fazenda ou numa casinha de sapê...” Em todos os lugares e situações, tem sempre um celular tocando... E também funcionando como aparelho de som, como máquina fotográfica e como computador. Na mesma velocidade em que a tecnologia evolui, novos recursos facilitadores aparecem e, em contrapartida, surgem novas dificuldades para saber como lidar com essas novidades que invadem nosso cotidiano.
Quando começamos a nos acostumar com as mudanças que a tecnologia causa em nosso comportamento, lá vêm mais lançamentos que não se resumem em apenas modernos equipamentos, mas sim em transformadores de uma sociedade. Exagero? Basta observar nosso dia a dia para notar a presença desses invasores.
O celular é, de longe, uma das maiores invenções da humanidade. Palavra de usuária! Outro exagero? Basta ficar umas horas sem celular para perceber a importância que se dá a ele. Nem precisa chegar a tanto; a ameaça de ficar sem bateria no decorrer do dia já é o suficiente para entrarmos em pânico. É melhor, então, admitir que hoje somos totalmente dependentes de um aparelhinho que não mede nem um palmo e ainda pode nos deixar na mão a qualquer momento. Como entender o ser humano? Isso fica para outra hora...
Se controlar quanto ao uso do celular já é difícil, controlar o outro então parece impossível! Desde que o celular invadiu nosso cotidiano, vimos perdendo a noção de individualidade, privacidade, bom senso e educação. Falar com alguém a qualquer momento, acessar a internet e navegar pelo mundo sem sair do lugar... São muitas as possibilidades, mas há limites para essa tal liberdade.
Professores com conhecimento e alunos com dados?
Em sala de aula, por exemplo, o celular e suas possibilidades podem travar uma verdadeira guerra entre professores e alunos. Conseguir que não falem ao telefone ou ouçam música durante as aulas é totalmente possível, mas e o acesso à internet? Afinal, é fácil apertar alguns botões e ir aonde quiser sem que o professor perceba.
Imagine, por exemplo, uma aula de História em que o professor está falando sobre a Idade Média e começa a fazer um contraponto com alguma descoberta recente. Se o professor não levar para a sala as informações mais recentes retiradas há alguns minutos de sites confiáveis, ele perde a batalha para os alunos, que podem estar online pesquisando sobre o mesmo assunto e, muitas vezes, com mais habilidade tecnológica e domínio de outras línguas. Nessas horas, existe um vencedor, existe a distinção entre quem tem o conhecimento e quem tem os dados?
Ter os dados em mãos e não saber o que fazer com eles praticamente anula a questão, não tem valor. A professora Célia Sandra Evelyn Camacho, mestre em Ensino de Química no Programa Inter Unidades da USP, ressalta que “o professor não é detentor de todo o conhecimento e, principalmente, deve ter consciência disso com a globalização e a internet. Nosso novo papel é o de mediador do conhecimento, e não transmissor de conhecimento”.
Conhecimento esse que está sempre em construção. “Tendo clareza de nosso papel e autoconfiança de saber analisar as situações e ainda sabendo que o conhecimento está sendo construído pelo aluno nas suas interações sociais – não só com o professor na escola, mas em todas as instâncias em que ele está inserido –, não vejo problemas no acesso à internet. Pelo contrário, é muito enriquecedor perceber que o aluno passou de um ser passivo para protagonista de seu aprendizado. Hoje a escola não é só um lugar de ensinar, mas também de aprender! Antes a educação estava pautada na transmissão de velhos conceitos arraigados por uma classe intelectual; hoje um dos pontos positivos é a democratização da informação”, é o que diz Célia, que leciona na EE Solon Borges dos Reis, da Diretoria de Ensino Centro Oeste, e é coordenadora pedagógica da EMEF Terezinha do NAE Butantã, ambas em São Paulo.
Vencer a guerra contra a falsa onipotência que os recursos tecnológicos podem dar aos estudantes não é tarefa das mais fáceis, até porque esses invasores são muitos e ainda desconhecidos. Uma das opções é unir-se a eles, usando os recursos tecnológicos a seu favor. Com o conhecimento do professor sobre o assunto a ser trabalhado e a tecnovontade do aluno, é possível chegar a um resultado mais rico em informações. Até porque estar antenado às transformações que a tecnologia nos promove alltime já é sinal de mais uma batalha vencida.
Publicado em 1º de março de 2011
Fonte: Revista Educação Pública
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