por Débora Martins
Dorina Nowill fez a diferença na inclusão das pessoas cegas e com baixa visão. Deixará saudades e um legado para a educação.
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Parada cardíaca mata Dorina Nowill
Primeira mulher cega a frequentar um curso normal no Brasil, ela dirigia fundação para cegos desde 1951
Velório ocorrerá na sede da fundação, na Vila Clementino; enterro será hoje no cemitério da Consolação
JAMES CIMINO
DE SÃO PAULO
Morreu ontem, aos 91 anos, vítima de uma parada cardíaca, a pedagoga Dorina de Gouvêa Nowill. Ela estava internada havia 15 dias por causa de uma infecção.
Cega desde os 17 anos em decorrência de uma infecção ocular, Dorina criou em 1946 a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, para produzir e distribuir livros em braille para que deficientes visuais como ela pudessem estudar.
Em 1991, a fundação ganhou o seu nome. Casada havia 60 anos com o advogado Edward Hubert Alexander Nowill -que conheceu nos EUA-, ela deixa cinco filhos, 12 netos e três bisnetos.
Segundo sua neta Martha Nowill, 29, o enterro será hoje no cemitério da Consolação (região central de São Paulo). O velório acontecerá a partir das 8h e se estenderá até as 16h na sede da fundação, na Vila Clementino.
Martha disse que ela estava consciente anteontem, quando a viu pela última vez -tinha, porém, dificuldade para falar. "Ela disse que estava em paz", afirmou.
HISTÓRIA
Nascida em São Paulo em 1919, Dorina contou à Folha no ano passado, ao completar 90 anos, que a última imagem que viu na vida foi em 1936: uma fotografia de um navio do álbum de viagem de uma amiga da mãe, que retornava da Europa.
Apesar das dificuldades para continuar estudando naquela época, em que a leitura braille não era difundida no Brasil, Dorina foi a primeira aluna cega a frequentar um curso regular, na Escola Normal Caetano de Campos.
De 1961 a 1973, dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em sua gestão foram criados os serviços de educação de cegos em todas as unidades da federação.
Especializada em educação de cegos pelo Teacher"s College da Universidade de Columbia, em Nova York, Dorina conseguiu que em 1948 sua fundação recebesse da Kellog's Foundation e da American Foundation for Overseas Blind uma imprensa braille completa.
Desde então, o instituto se tornou uma referência mundial na inclusão social de crianças, jovens e adultos cegos ou com baixa visão.
A neta Martha fez várias entrevistas com a avó para o roteiro de um filme sobre sua vida. A jovem deverá interpretar o papel da avó.
"Embora feliz com a ideia, ela sempre se perguntava se alguém teria interesse em ver um filme sobre sua vida."
BIOGRAFIA
DORINA NOWILL
VIDA PESSOAL
Nascida em 28 de maio de 1919, em São Paulo, perdeu a visão aos 17 anos. Casou-se em 1950 com o advogado Edward Hubert Alexander Nowill, com quem teve cinco filhos, 12 netos e três bisnetos. Morreu ontem aos 91 anos, de parada cardíaca.
MILITÂNCIA
1946
Ajuda a criar a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que ganharia seu nome em 1991
1951 Passa a presidir a entidade
1961 a 1973
Dirige o primeiro órgão nacional de educação de cegos no Brasil, criado pelo MEC
1979
É eleita presidente do Conselho da União Mundial dos Cegos
1996
Publica sua autobiografia
Fonte: Jornal Folha de S. Paulo
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